quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O mistério dos ministros

                Dois ministros perderam uma extraordinária oportunidade de permanecer em silêncio mas preferiram nos brindar com suas pérolas. O ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e o ministro do Supremo José Dias Toffoli resolveram nos chocar com suas declarações ao se referirem aos condenados do mensalão. Primeiro, o ministro da Justiça disse que o sistema prisional brasileiro é medieval e que ele "preferiria morrer a passar anos preso no Brasil".  Quase que ao mesmo tempo, lá no Supremo, o ministro Toffoli propunha que os condenados do mensalão, ao invés de cadeia pagassem multas e comparou as condenações dos mensaleiros às perseguições da Inquisição, acrescentando ainda que os crimes cometidos pelos condenados não atentavam contra a democracia e por isso poderiam ser punidos com multas e não com prisão que, segundo ele, é coisa medieval.  Toffoli é, para quem não sabe, aquele que chegou a ministro do Supremo indicado pelo Lula e cujo único mérito foi o de ser advogado do PT, sendo um advogado sem doutorado nem pós-graduação. 
                Ora, num país onde o presidente se orgulhava de não ter estudado, um ministro do Supremo sem qualificações para o cargo não é algo incomum.  Pois bem. Vamos ao ministro da Justiça :  por alguma razão ele parece esquecer que sendo ele o ministro da Justiça ELE é o responsável pelo atual estado das prisões, pois que isso é atribuição da sua pasta.  Perguntado sobre isso, ele respondeu que esse estado de decadência vem de décadas e ele é ministro há apenas dois anos. É verdade, a falência do sistema prisional é de longa data, mas vamos saber do ministro o que ele fez efetivamente nesses dois anos para que o sistema fosse menos medieval… Ninguém esperava que ele fosse, nesses dois anos, dar a solução definitiva ao problema, mas o que ele fez de efetivo quanto a isso até agora ?  Sem comentários.  Voltando ao Toffoli :  tudo começa pelo fato de que ele, em nome da decência, deveria ter se dado por impedido de atuar no julgamento do mensalão porque era um óbvio conflito de interesses :  ele foi advogado do PT, amigo de diversos dos acusados e para piorar, a sua namorada é advogada de alguns dos réus.  Claro que em um país decente o juiz nessa situação se daria por impedido, mas falamos de um país decente e não do Brasil, então o ministro se manteve no julgamento, absolveu alguns dos réus e no final dá aquela declaração tacanha. 
                Será que ele prega que cadeia mesmo seria só para crimes de morte, mas no caso de ladrões a coisa se resolveria com multas ?  Esses ladrões do mensalão cometeram crimes tipificados no Código Penal, mas já que o ministro não tem pós-graduação, nem Mestrado  nem Doutorado talvez ele não saiba disso, por isso deu essa declaração infame.
                A verdade, pura e simples ?  Nenhum dos dois ministros estava nem aí para a situação das cadeias e só se manifestaram quando se deram conta de que alguns dos seus companheiros iriam acabar parando lá.  Foi exatamente isso.  Igual à preocupação de um outro ministro do Supremo  (ah, o Supremo, sempre ele !)  que resolveu se insurgir contra operações da Polícia Federal em que os acusados eram algemados. Ora, sempre foi assim, mas bastou o banqueiro Daniel Dantas aparecer algemado na TV que o ministro achou  um absurdo, embora aquilo acontecesse a outros cidadãos todo dia e na mesma TV e o ministro nunca se sentiu chocado.
                Mas disso tudo pode resultar uma coisa boa, ao menos para a massa carcerária :  se agora passar a ser comum que gente do colarinho branco, políticos e a petralha do mensalão irem parar nas cadeias comuns, tenho  a impressão de que os governos federal e estaduais vão repentinamente começar a fazer pesados investimentos nas prisões, de maneira que deixarão, em pouco tempo, de ser masmorras medievais para se transformar em verdadeiros condomínios fechados, porque, afinal, nunca se sabe o dia de amanhã !
                Se tivéssemos um meio de obrigar os nossos políticos a usar hospitais públicos, usar transporte coletivo, sair na rua sem seguranças particulares e a colocar seus filhos em escolas públicas os problemas do país estariam resolvidos porque o volume de investimentos nessas áreas seria incrivelmente alto.  Mas, enquanto isso não acontece, vamos nos contentar em ver a petralha atrás das grades, que já é um bom começo.

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