segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Longe de casa



                Tão longe de casa...nesses primeiros dias de Janeiro de 2016 me encontro longe da minha terra, aqui, neste auto-exílio temporário, nessas ilhas tão cheias de distância e solidão, no Paralelo 51 N. E esse afastamento da terra natal produz um sentimento paradoxal, que é uma mescla de saudade e alívio. Saudade da terra mãe, e alívio por estar longe daquilo em que a transformaram.
                  Vi brasileiros defendendo a vilania, brasileiros saindo em defesa dos tiranos que espoliam nossa pátria, e fazendo isso com uma sensação de dever, como que proteger o criminoso fosse um ato patriótico. Se essas pessoas a quem me refiro fossem os idiotas-úteis, os militantes dessas causas utópicas, estudantes de universidades vermelhas que nada aprendem que não seja doutrinação ideológica de filosofias doentes e pervertidas, e também pessoas que de algum modo se beneficiam da permanência dos criminosos no poder, eu entenderia as razões delas.  Se fossem pessoas que foram pagas para fazer essa defesa, ou gente que é beneficiária desses muitos bolsa-qualquer-coisa, eu entenderia as razões delas. Mas eu falo é de pessoas que não são imbecís como aqueles estudantes universitários, nem são ignorantes como os idiotas-úteis, nem vagabundos como os parasitas de programas sociais que abdicaram de trabalhar para continuar a receber sem nenhuma contrapartida. Falo de pessoas que defendem os ladrões da pátria e não estão ganhando nada por isso, que o fazem por identificação ideológica.
                    Em qualquer país decente e onde haja lei e respeito à Constituição, pessoas como Lula e Dilma já estariam na cadeia antes de terem cometido metade das coisas que cometeram e ainda cometem. Mas no Brasil, portanto um país indecente, existe toda uma blindagem que protege pessoas assim, impede a ação da Justiça e da PF, imobiliza o Ministério Público e barra toda tentativa de conter a sangria financeira que esses criminosos estão fazendo. Se quem faz isso são ministros do STF, indicados pelos chefes dessa quadrilha no poder, é de se entender que  estejam agindo como advogados do partido que está no governo. Se quem faz isso são deputados e senadores comprados e corrompidos com nosso dinheiro, é de se entender que estejam agindo em prol de quem lhes paga.  Se quem faz isso são artistas medíocres e decadentes que vivem de Lei Rouanet, é de entender que estejam louvando o governo que lhes dá as migalhas de que precisam para que não caiam no ostracismo total em função da canastrice de sua "arte".  Mas como entender quando vemos pessoas que não estão em nenhum desses grupos e vindo com todo um arsenal de argumentos e malabarismos verborrágicos que estabelecem que  "ainda não há provas." ,  "não há motivo para nenhuma ação judicial." e o clássico  "toda forma de tentativa de tirar do poder uma pessoa eleita é golpe."  ?  Vemos gente assim entre profissionais liberais, juristas, gente do povo, pessoas instruídas e sem dependência nem filiação partidária mas ainda assim defendendo a permanência da quadrilha no poder.
                    Para mim a gota d'água foi ouvir alguém me dizer   "Eu estava sem fazer nada, dormi o dia inteiro.  Poderia ter ido naquelas manifestações contra o governo...pena que eu não sou golpista, senão eu até teria ido junto com vocês."   Isso veio de uma pessoa com alto nível de formação, sem nenhum envolvimento partidário.  Deu a sua opinião, na qual classifica de golpistas todos aqueles que tentam salvar o que ainda não foi roubado.  Pessoas como essa são aquelas que dizem coisas como "o PT não inventou a corrupção" ,  "governos anteriores também roubavam",  "outros governos também roubaram da Petrobras"...  Ou seja até admitem que o atual governo de fato rouba, mas isso é minimizado na mente delas pelo fato de que outros governos também roubavam.  Vale a pena entrar numa discussão com uma pessoa assim e dizer-lhe que embora seja verdade que governos anteriores roubavam também,  o fato é que o atual governo roubou mais do que todos eles juntos e fez da corrupção uma ideologia, um dever e uma razão de ser para financiar seu projeto de poder ?  Não, não vale a pena.

                 Foi por isso que desisti de lutar pelo Brasil. Ele escolheu seu destino, talvez seja até bom que passe por um trauma que dure 30 ou 40 anos, para que depois disso ele finalmente desperte.
                 Andando pelas ruas desta cidade onde estou agora fiz amizade com muita gente e por ser um lugar relativamente pequeno e por não ser a primeira nem a segunda vez que venho aqui, me tornei até conhecido dessa gente tão carinhosa e simpática que mora aqui. Mas eu evito falar que sou brasileiro, só falo se houver certa insistência. Se eu puder me esquivar, digo que sou da América do Sul, sem precisar o ponto de origem.  É porque essas pessoas daqui acompanham as notícias, sabem do que ocorre no mundo e sempre que a gente diz que é brasileiro eles logo começam a fazer perguntas que falam em escândalos, desmandos do governo, bagunça das instituições, comunismo no Brasil e coisas assim. Melhor não dizer que vim de um lugar desses.
                  Essa postagem está sendo escrita e publicada a partir do meu laptop, aqui no Starbucks (sim, aqui tem Starbucks, tem Santander e até McDonalds), que fica entre meus outros dois lugares favoritos, que é o Fleece (à esquerda de quem entra no Starbucks)  e do outro lado a Bingham Library, um lugar onde quase que já me incorporei à paisagem. Infelizmente, em muito pouco tempo eu terei de descer ao inferno e voltar ao nosso país, que já foi um paraíso antes que a desgraça vermelha o tomasse, com a ajuda daqueles brasileiros de quem falei acima. Mas mesmo retornando em alguns dias não vou mais me engajar nessa luta, uma causa perdida que deixou nas mãos de meia dúzia de patriotas a missão de lutar contra quem veio para nos roubar e nos matar, enquanto mais de 200 milhões de brasileiros se dividem em dois grupos, os que não fazem nada, e os que não fazem nada e ainda nos chamam de golpistas.
                    Na última madrugada circulei com algumas pessoas amigas, e andamos por todas essas ruas a altas horas sem nenhum tipo de temor, porque aqui eles nem conhecem o tipo de violência que assola nosso país. Hoje pela manhã eu vi um homem saindo do Santander contando dinheiro pela rua aqui, em plena Market Place e ninguém imagina que possa passar algum ladrão correndo e tomar-lhe o dinheiro.  Se isso acontecesse seria um escândalo.  O ruim de vir pra cá é que a gente não quer voltar, mas infelizmente a volta pra casa é necessária. Mas esse que estará voltando ao Brasil já não é o mesmo que desembarcou aqui alguns dias atrás.

                              Daniel de Ávila
                            from Cirencester, Glo. - UK
                                 ___________________________

                                            

6 comentários:

Silberkoenigin disse...

Aproveite tua estadia aí (tenho certeza q aproveitou!!!) E traga um creme para pentear o cabelo da marca Daniel Field, se ainda der tempo. É tudo de bom.
As pastilhas pra dor de garganta da Boots tb!!! (não sei se ainda fabricam sem açucar), mas o q eu mais gostava esram as Admiral Pie e Sailor Pie, e os trifles, todos eles de supermercado... Os do Tesco eram os melhores... :')

Daniel de Avila disse...

O Tesco de que voce fala é o Express, da Chesterton ? Tem outro lá na Cricklade.

Silberkoenigin disse...

Todos os Tesco têm essas tortas e o trifle, provavelmente os Express tb. Tb existem nos Sainsbury. Os de outros supermercados não eram muito bons.
A Admiral Pie era ótima, msm no microondas!

Unknown disse...

Daniel, acredito que você sabe o quanto significa para mim, mas mesmo com a saudade, o sentimento mais difícil de suportar que conheço, se eu fosse você, pelo carinho que lhe dedico, e pelo tanto que quero vê-lo bem, eu não voltaria ao Brasil. Estou "cavando" em todas as direções possíveis, para sair desse País, que há muito deixou de ser o meu País. Eu lutei, lutei muito, fui às ruas, gritei, levei tapa e empurrão de infiltrados, gastei o que tinha em viagens, mas não deu ... também estou saindo da briga. Cansada demais ... meu sonho de investimento no ser humano que ainda sou, é passar o restante da minha vida, sem lembrar que um dia vivi aqui. Não é mais esse, o País por que briguei, amei e sonhei passar o resto da minha vida. Esse Brasil de agora, tornou-se estranho, frio, o feio virou o bonito e vice versa. Não é mais o meu País. Desejo a vicê toda a Felicidade do mundo, mas pense se vale a pena voltar para cá ... um grande abraço, dessa sua Amiga que lhe quer muito bem ...

Daniel de Avila disse...

Victoria, infelizmente ainda não posso ficar em definitivo pois ainda exerço certas atividades profissionais no Brasil, mas quem sabe um dia ? O mais triste é que temos tantas pessoas como voce e eu pensando em sair do país, quando o que teria de acontecer é ELES terem de sair da nossa terra. O Paraguai e a Argentina já se livraram dessa ralé, quem sabe o Brasil toma vergonha na cara e escorraça eles de lá também ? Grande abraço, deste seu Amigo !

Sarah D.A. Lynch disse...


Sempre inteligente e bem articulado. Parabéns. Gostei de reencontrar você. Uma amiga me enviou seus endereços. Abraços!